Aventuras nas urgências de um hospital

8:03 da tarde

Na passada terça-feira o ff e eu tivemos um acidente de mota. Nada de muito grave porque íamos devagar mas ficámos doridos da queda. Eu tive direito a um bónus, um golpe na parte de trás da perna, mesmo abaixo do gémeo. O golpe foi fundo e levei 5 ou 6 pontos (não consegui contar). Continuamos sem saber como fiz esse golpe porque na mota não há nada cortante, o chão também não tinha. Um enigma. 
Foi o meu primeiro acidente de mota e a minha segunda cicratiz nestes 40 anos. A minha estreia foi aos 5 anos. Bati contra um Citroen dois cavalos e esmaguei a luz da frente, em forma de cone, com a minha testa, bem próximo do olho o que me deixou com uma parte da sobrancelha sem pelos.
A segunda não conta porque foi da cesariana no nascimento da minha filha. A terceira é esta, uma cicatriz na perna. 
As cirurgias sempre me fizeram confusão. Coser pele.... arrgghh... que horror! Então quando é a minha, pior ainda. Mas não pude deixar de olhar, tal como acontece quando me tiram sangue. Tenho de ficar a ver. Afinal,  o corpo é meu e é bom que o tratem como deve de ser. 
Fui levada para o hospital de ambulância e entrei de maca (nunca me tinha acontecido antes). Lá fiquei, no corredor à espera que me chamassem para a cirurgia. Claro que, como sempre tenho de ser atendida por um médico e estagiários. Já no parto do meu filho foi igual. Eu de pernas abertas na sala antes do parto a ser observada por uns 5 estudantes de caderninho na mão e a obstetra a explicar que tipo de parte seria (termos técnicos). 
Neste caso o médico ia explicando à medida que punha os instrumentos em cima de uma bancada. Só  um dos estagiários tinha um bloco e tomava nota. Veio perguntar-me que idade tinha. Mais uma vez repeti como tinha feito o corte e quando o médico tirou o penso apercebeu-se que aquilo ainda era um golpe e peras. Toca a pôr betadine "vai arder um pouco" diz ele. Um pouco é favor. Dei um berro!! OMG... aquela porcaria ardeu como o caneco! Deu pequenas picadas para anestesiar a zona e começou a cozer explicando porque usava nylon e não fio de seda (aprendi mais qualquer coisa nesse dia). É uma sensação esquisita, a de sentir que estão a furar a pele e a puxar um fio para as duas partes se colarem. 
Um dos estagiários terminou os nós com a ajuda do médico e a infermeira passou betadine em todas as outras feridas que tinha na perna (ainda eram algumas).
De volta para o corredor à espera de fazer radiografia. Entretanto o ff também foi atendido e (sorte a dele) deram-lhe uma injecção para as dores. Pergunto-me, em que altura pensaram que eu não precisava de qualquer coisa para as dores? Hum? Saí de lá sem uma única droga para dores. Tough luck!
Fui fazer a radiografia antes do ff e a senhora, que apesar de simpática, não tinha lá muito jeito para tratar de pessoas com traumas nomeadamente uma ENORME CICATRIZ NA PERNA ACABADINHA DE COSER! E o que é que a senhora faz? Agarra-me na perna mesmo no sítio da cosedura para virar a perna do jeito que queria.
Grito número dois. "O que foi" pergunta ela ao que eu respondo "acabei de ser cosida na perna, não vê o penso?!?". Vá lá, pediu desculpa e deixou-me mexer a perna sozinha (coisa que eu já estava a fazer mas não à velocidade desejada).
Corredor do hospital, parte três. Chega o ortopedista que por acaso é o médico do lés-a-lés em que o ff participa. Como qualquer motoqueiro, perguntou o estado da mota (lol) e disse-me que não tinha nada partido mas que ia ter dores durante umas semanas. 
Foi-se embora e deixou-me ali no corredor. Como ninguém me chamava e o ff já estava despachado, perguntámos a um auxiliar se eu podia ir embora. Pelos vistos não ia ser vista por um  médico das urgências, nem receber drogas para as dores nem me receitarem drogas (coisa que fizeram com o ff). Por um lado é bom, não tenho ar de junkie mas tive de aguentar as dores até chegar a casa. 
ps:  subir as escadas para um terceiro andar depois de ter a perna cosida é obra. Ténica usada: sentada de costas e subir os degraus de rabo. 

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